Stromboli. Essa era a parte mais cara de minha viagem pelo sul italiano em busca de seus vulcões, mas uma das mais esperadas. Não é sempre que se tem a oportunidade de visitar um lugar que, historicamente, gera uma erupção vulcânica por hora em média. Há séculos. A chegada na ilha vulcânica só pode ser feita de uma forma: barco. Existem dois tipos: as grandes embarcações, navios mesmo, que carregam centenas de passageiros, carros, etc - que tomei pra ir da ilha até Nápoles (onde dias depois eu estaria encarando frente a frente o Vesúvio) e os barcos menores e mais rápidos, que fazem o transporte entre ilhas e também o que vem da Sicília. Você pode comprar a passagem online com antecedência.

Me posiciono na janela e aguardo a aproximação, vendo Stromboli ao longe. Todas as janelas possuem vidro, sem aberturas. Mesmo assim é bonito ver aquele pontinho crescendo na sua frente até virar a ilha-vulcão. Quando nossa embarcação contorna a ilha, passo pela primeira vez em frente à Sciara del Fuoco, uma grande e larga cicatriz natural que vem do topo do vulcão até o mar, por onde normalmente escorre a lava e todo o material vulcânico que é ejetado sistematicamente das erupções. Fui presenteado com um desses derramamentos logo neste instante. Ainda ao longe, não se via nada vermelho, mas um material rochoso que fazia fumaça no tobogã, mostrando seu caminho natural encosta abaixo. Como foi tudo muito rápido, consegui apenas um registro com o celular. 

 


Chegando na ilha fui pro meu hotel, fiz o check-in, aprontei o material fotográfico e segui meu caminho para o meu objetivo: contemplar e finalmente fotografar uma erupção com lava. Em Stromboli você pode contemplar as erupções de 4 lugares diferentes:

1) de barco, do mar. Agências fazem esse passeio, pegando você no cais da ilha e levando de barco até ficar de frente pra Sciara del Fuoco. É relativamente barato (15-20 euros) mas é a forma mais distante de você observar as erupções e, bem, caso elas sejam das mais brandas corre-se o risco de não ver quase nada, afinal a cratera está 900m acima de você, além da distância do barco até a base da ilha. Seria como estar num pedalinho no meio da Lagoa Rodrigo de Freitas olhando pro Cristo Redentor no Rio (que também está cerca de 900m sobre o nível do mar).

2) subir a trilha até o topo do vulcão, ficando uns 100m acima das crateras e vendo elas de cima. É o passeio mais perigoso (pela proximidade com as crateras), mais cansativo (você sobe praticamente 1000m em poucas horas a pé - nem todos tem preparo pra isso, ainda por cima na parte final em que o terreno passa a ser de cinzas vulcânicas onde fica mais difícil caminhar) e o mais caro (em torno de 45 euros) pois envolve guia, capacete alugado e uma espécie de exclusivismo pois é proibido subir acima da cota 400m na ilha sem guias locais credenciados. Por isso fiz a pré-reserva. Se você chegar na ilha e procurar vagas no verão para os seus dias de estada é bem provável que não as encontre mais! 

3) Ir até uma ponta do vilarejo (40min de caminhada desde a rua do cais e dos hotéis principais) onde se situa o l'Osservatorio: único restaurante do mundo com vista panorâmica para explosões vulcânicas frequentes onde você pode degustar uma pizza e um vinho italiano ao ar livre enquanto espera a próxima erupção. Ele fica na cota 100m (800m abaixo das crateras) e margeia uma das bordas da Sciara del Fuoco;

4) continuar na trilha para o mirante da cota 400m, a partir do l'Osservatorio. São mais de 40min subindo uma trilha íngreme mas protegida do desfiladeiro. Ao final dela, chega-se a um mirante que se encontra no meio do caminho entre as crateras e o mar, de cara pra Sciara del Fuoco. 

Escolhi ir direto para a opção 4 e como o dia terminava, apressei o passo. Carregando tripé, lentes, câmera, lanche e uma headlamp cheguei no mirante já de noite: momento perfeito e fresco no tórrido verão italiano pra montar o equipo e aguardar. No meio do caminho encontrei outros trilheiros se dirigindo para o mesmo lugar. Chegando lá, aguardamos em silêncio o despertar estromboliano. Não tardou. Sons secos e graves e um jorro vermelho de lava para os ares: minha primeira erupção rubra!



Lá, no verão, demora bastante a escurecer. Algo como 21h. Sei que perdi as horas ali. Esperando, vendo outras, ajeitando a câmera, fazendo testes, acertando o foco no breu, testando tempos de exposição e apreciando ao vivo e a cores um espetáculo gratuito da natureza. Eu ainda não sabia, mas dessa experiência sairiam minhas melhores fotos das erupções em Stromboli, que compartilho aqui com vcs.





Um adendo: a headlamp foi fundamental. Tanto pras configurações da câmera no mirante quanto pra volta da trilha, de madrugada. Em toda a trilha não há qualquer tipo de iluminação artificial e é realmente um breu supremo, pois você está no lado escuro da ilha (e bem que poderia ter descido ouvindo o perfeito Dark Side of the Moon: a gente desce pensando na vida).

Bem, além de toda essa experiência, essa ilha é um balneário famoso entre os italianos e gringos que visitam o sul da Itália. As praias e os hotéis ficam lotados. O meu ótimo hotel (boa localização e estrutura, apesar de simples) me custou a "bagatela" de 154 euros/dia. Foi o hotel mais caro da viagem mas valeu a pena. Deixo vocês com mais algumas fotos da ilha, do lindo Mediterrâneo que a circunda e de um por-do-sol que com certeza se inspira no vermelho das erupções estrombolianas. Arrivederci!

No dia seguinte, fiz passeios de barco afinal ninguém é de ferro.. Stromboli vista do mar.

Stromboli vista do mar.

De um restaurante panorâmico, ve-se ao longe a ilhota-farol Strombolicchio.

De uma das praias da ilha, Strombolicchio ao fundo.

Assim é o piso das praias por lá. Se você está acostumado com a areia branca das praias do Rio, não esqueça suas sandálias. Vai ser difícil caminhar para o mar! Detalhe: rochas com furinhos indicam rochas vulcânicas: os furos são gases que escaparam para a atmosfera quando a rocha saiu da câmara magmática e "veio ao mundo".