Aventuras Vulcânicas: Stromboli (I) - a ilha do amor
Itália
4 15/05/2016
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Existem lugares que te cativam pelo charme. Stromboli é, definitivamente, um deles. Essa ilha italiana de pequenas dimensões (12,2 km2) e poucos habitantes (em torno de 400 pessoas moram lá) é basicamente a ponta emersa de um vulcão ativo que nasceu no fundo do mar e hoje se projeta de forma quase cônica a pouco menos de 1000m acima dele. Mas o que existe de especial ali?
Suas ruelas apertadas de típicas casinhas brancas mediterrâneas já são um charme por si só. Carros não transitam a não ser pela rua costeira que margeia parte da ilha. O balneário é muito procurado por turistas no verão, que parecem não se importar com um fato bem interessante da ilha-vulcão: erupções constantes! A saber, Stromboli é o vulcão em atividade mais constante e perene na face da Terra com uma média hoje de 1 ou mais erupções a cada hora. Além disso, calcula-se que suas bocas estejam expelindo lava e bombas vulcânicas há 2.500 anos seguidos. Por conta disso, muito antes da invenção da luz elétrica ele já ajudava os navegantes que passavam à noite por ali, dando à ilha o apelido de "Farol do Mediterrâneo".
Mas se é esse o apelido da ilha, o que justifica meu título? Um filme - e seus bastidores. Em 1949 aportaram na ilha Roberto Rossellini e grande elenco pra filmar "Stromboli", mais uma obra do neo-realismo italiano. Durante as filmagens Rossellini e Ingrid Bergman (atriz principal do filme) se apaixonam e ali, desta paixão proibida, concebem um filho. E por que escolhi este apelido como centro dessa postagem? Simples. Pelo fato de que enquanto a maioria das pessoas vêem os vulcões como algo negativo causador de mortes e destruição, a ilha adotou a sua condição de "eternamente em erupção" pra propagandear o amor, como se este sim estivesse por ali eternamente em erupção. Daí vemos espalhados pelas ruas diversos souvenirs que nos recordam isso, quer seja com grafismos 'fofos' associados às erupções e ao formato do vulcão ou mesmo com corações saindo da cratera, em vez de fumaça e cinzas.
Caso você queira ver uma erupção vulcânica aqui é certamente um dos melhores lugares no mundo pra isso. Além de serem quase pontuais na sua frequência generosa, apresentam normalmente um baixo nível de perigo por conta de sua baixa energia, se comparada às erupções explosivas de nossos vizinhos sulamericanos por exemplo. Elas são tão específicas e especiais que, na vulcanologia, existe dentre as classificações de níveis de erupção, uma categoria chamada 'erupção estromboliana'. Apesar disso, todo o cuidado é pouco. Devemos relativizar muito palavras como "branda", "pouco violenta" e similares quando falamos de vulcões e seres humanos. As escalas são obviamente desproporcionais. Há momentos em que o Stromboli aumenta sua atividade e isso pode, de forma inadvertida, causar riscos reais. Em 1930, por exemplo, 6 pessoas morreram por conta de uma erupção na ilha seguida de tsunami e, bem, era uma época em que centenas de turistas não sonhavam em se aventurar por ali - quanto mais subir suas escarpas pra observar de cima as crateras. Quando estive no topo (era alta temporada) haviam dezenas de pessoas comigo, levadas por diversas agências de turismo.
Imprudência? Aventura? O importante é saber que aquilo não é cinema-3D nem um pavilhão de Inhotim e sim uma manifestação da natureza, ainda imprevisível para o ser humano. Subindo, assume-se o risco. Mas o espetáculo é fascinante.
A subida é marcada para o fim de tarde. O sol está um pouco menos inclemente. Depois de 3-4h de penosa trilha montanha acima, chegamos perto do topo no momento em que o sol se põe. No horizonte, barquinhos, nuvens e o mar. Uma cratera fumegante. Do topo estamos a quase 100m acima das crateras. Senta-se, capacete na cabeça e esperamos (im)pacientes que mais uma vez pedaços de rocha, pedaços incandescentes do interior da Terra iluminem o ar fresco. Súbito, um som seco e grave é o prenúncio de mais um splash de lava fresca que se projeta e escorre encosta abaixo. O som é acompanhado de uma série de "Oh"s, "Aaah"s, "Wow"s vindos de nacionalidades diversas. Amo aquelas cores, aqueles sons; amo aquela sensação única de poder estar ali. Simplesmente estar. E presenciar. O que nos move, quais são nossos sonhos?
Permanecemos por 1:30h no topo. É mágico, indescritível. Até o momento em que o guia junta o grupo e distribui máscaras para todos. Descemos por um grande depósito de cinzas do vulcão: uma descida rápida e divertida, iluminada pelas headlamps vamos encosta abaixo surfando as cinzas que se enterram até a canela à medida que descemos. Chegamos quase meia-noite de volta ao povoado, depois de 2h de descida.
Cansado ao extremo, sedento e feliz. Muito feliz!
AlexandreBrautigam
Postado
2016-05-18 19:25:12 -0300
valeu Bruno! É verdade, é um projeto de vida meu! Artístico e científico. :)
Bruno
Postado
2016-05-17 02:14:01 -0300
Alexandre, buscando várias emoções ao lado dos vulcões! E como sempre, post muito detalhado. Top Top!!
AlexandreBrautigam
Postado
2016-05-16 22:43:42 -0300
Tb adorei o país, tanto o norte quanto o sul..
GabrielDias
Postado
2016-05-16 15:38:28 -0300
Eu outubro vou à Itália. Adoro o país!